19 de mar. de 2014

97. MEU PAI, MEU HERÓI. ATÉ QUANDO?


O pai descobre que a filha de sete anos levou ao banheiro um de seus livros técnicos de direito tributário. Curioso pergunta: “Mas você está entendendo? Gostando?” A criança diz que já leu mais de uma página, está gostando, mas que não está entendendo muito bem. Ai as crianças!!!
Este pai tem o hábito de levar livros ao banheiro. Em geral, a criança vê no pai a figura de um herói, e vai querer imitá-lo em tudo o que for possível. E parece saber, intuitivamente ou pela experiência,  que assim fazendo o deixará feliz.
Em breve ela levará os seus próprios livros ao banheiro. E é desta transição que quero falar. Do pai herói que vai deixar de ser. E que será preciso deixar de ser, como é também fundamental ser, num instante da vida, um herói.
Lembro da minha relação com o meu pai. Eu o colocava num pedestal, afinal sabia tudo, resolvia tudo e ainda me erguia em seus braços levando-me a voar. Mas cresci, não acreditava mais em heróis, voava com as próprias asas e meu pai já não era tão grande quanto parecia. Percepção bem difícil a ambos: pais e filhos. Mas passada a desorganização da representação paterna e a reconstrução de uma nova, percebia que a relação tornava-se bem mais interessante. Ambos com os pés no chão, sem pedestal, numa relação de troca horizontalizada, rica em aprendizagens e desenvolvimentos ao ser individual de cada um e à nossa própria relação. 
Herói até quando? Até o momento corajoso e necessário de se mostrar demasiadamente humano.

Um comentário:

  1. Tema mais do que importante. Lembro bem das nossas conversas e do quanto a relação vai mudando com o passar do tempo. O olhar muda, as trocas também. A relação chega a outra nível de maturidade. E como você disse, não tem hora certa, mas sim o momento corajoso e necessário de se mostrar demasiadamente humano.
    Lindíssimo post. Amo você.

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